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PLANEIO FINAL

É com imenso pesar que comunicamos o falecimento do nosso amigo, piloto, sócio, instrutor, competidor, entusiasta e incentivador Zdenek Peter Vaclav Volf.

Não há palavras pra definir a importância do Sr Peter para o nosso Aeroclube; tampouco para descrever tudo o que fez para a nossa casa e para o nosso esporte.

Nesse momento de luto, prestamos nossa solidariedade à família e aos amigos e trazemos votos de conforto a todos...

Que o seu legado seja eterno e que possamos continuar vibrando com suas lições.

Muito obrigado Peter Volf!

Aeroclube de Bebedouro

À Diretoria

Histórico

Com pesar que o Aeroclube de Bebedouro noticia o falecimento do senhor Zdenek Peter Vaclav Volf, na noite de 19 de agosto de 2024, ele que foi um grande colaborador e entusiasta do Aeroclube de Bebedouro. Nasceu na pequena cidade de Klatovy, na antiga Checoslováquia, o “Seu Peter”, como é conhecido, sempre se caracterizou pela sua férrea força de vontade, e amor pelo voo em planadores.

Em 1945, com apenas 15 anos, já pilotava solo um planador primário, que mais parecia um pterodáctilo. Nos anos seguintes, durante o pós-guerra, foi obtendo todas as insígnias possíveis no esporte:

Brevet C de Prata: 5 horas ininterruptas de permanência, mil metros de ganho de altura e navegar a 50 Km ou mais do ponto de decolagem.

Brevet C de Ouro:   3 mil metros de ganho, e navegar 300 Km, sem pousos intermediários.

Em 1950, conseguiu seu primeiro diamante, obtendo um ganho de 6.900 m (23.000 pés), batendo o recorde da CSR. Considerando a idade de apenas 20 anos, este era um feito inédito, pois apenas pilotos muito experientes figuravam entre os recordistas.

Não satisfeito com isto, obteve seu segundo diamante, percorrendo uma distância pré- fixada de 300 Km.

Nessa época, com a guerra fria a toda, o regime comunista controlava o país. Quem queria voar, tinha de se submeter aos militares. Ao mesmo tempo em que era admirado e invejado por todos, o Peter tinha o prazer de infernizar a vida de todos aqueles que eram dedicados ao regime. Após várias vitórias em campeonatos locais e europeus, era primeiro colocado no Ranking de pilotos da CSR. Fazia questão de voar um planador de fabricação alemã.

Dizem amigos da época, que em um campeonato, após todos os pilotos da equipe Checa pousarem, sem cumprir os objetivos, só faltava o Peter. Na sala de briefing, de costas para a janela, o chefe vociferava contra seu melhor piloto, chamando-o de indisciplinado, reacionário, incompetente, que devia ter sofrido um acidente... Neste instante, com o assobio característico dos planadores em alta velocidade, passa o Peter num rasante, executa dois loopings e pousa, ganhando mais uma vez o primeiro lugar.

Apesar do ódio dos militantes do partido comunista, como primeiro colocado no ranking de 1951 a 1954, Peter fazia parte da equipe Checa em navegação e acrobacia, vencendo os campeonatos nacionais ano após ano. Ao vencer o Campeonato Europeu de 1954, os militantes fizeram um longa metragem, em homenagem ao fato, com o nome “ASAS VITORIOSAS’. Após bater o recorde de distância livre (437 Km), nosso herói achou que seu tempo de cortina de ferro tinha se esgotado.

Numa fria manhã de outono, quase no inverno, um tapete de nuvens baixas e pesadas impossibilitava o vôo. Peter estava no aeroporto de Zandrov, trabalhando como encarregado.

Ordenou a um mecânico que instalasse um horizonte artificial num pequeno Teco-teco, equivalente a um Paulistinha. Como não podia deixar de ser, após fazer o serviço, o oficial de dia foi imediatamente comunicado. Antes de ser interpelado pelo militar, o Peter subiu no avião com outro piloto e decolou de dentro do hangar, passando, já voando, pela porta. O serviço de interceptação foi imediatamente avisado. Seria muito fácil derrubar um aviãozinho que voava a menos de 100 Km/h.

Rapidamente, o Peter entrou dentro de uma densa camada de nuvens. O amigo choramingava dizendo que, se não fossem mortos pelos caças, seriam torturados pelo pessoal de terra. O rádio matraqueava as mensagens dos Mig’s, que tentavam interceptá- lo. Sabiam que era impossível manter-se dentro da camada. A formação de gelo nas asas e no motor fatalmente derrubaria o pequeno avião. Os minutos se passavam, eles praticamente podiam ouvir os Mig’s rugindo à sua volta, pronto pra destruí-los assim que saíssem de dentro da proteção da camada. As nuvens que os protegiam eram a sua condenação. O motor começou a falhar, com gelo cobrindo o carburador, os comandos endureceram, comprovando o congelamento das asas. Nada mais havia a fazer voando às cegas, mas sabendo que havia esperanças, foram perdendo altura, até sair das nuvens. Estavam no meio de montanhas a menos de 50 metros do solo. Num último suspiro, o motor apagou de vez e eles entraram na névoa entre duas montanhas. Com os olhos fixos no horizonte artificial, mantendo a atitude correta, era uma questão de tempo até o impacto. De repente, ao sair da nuvem, as montanhas estavam para trás e havia um vale à frente. Com o motor desligado, pousaram num campo arado e foram abordados pela polícia local, com boas vindas: estavam na Áustria!

A fuga para a liberdade privou-lhe do que mais amava: O vôo a vela. Ao mesmo tempo que as forças aliadas lançavam, pela BBC de Londres, o programa “AS ASAS VITORIOSAS FUGIRAM’, o Peter mudava-se para o Brasil. Durante os próximos 36 anos não houve planadores, nem campeonatos, apenas trabalho, lutando para manter a família que formou no nosso país.

Ao retornar para os ares, tudo havia mudado. Novo país, novas regras, pouco interesse pela competição. Todas as insígnias e títulos obtidos no exterior se perderam. Era necessário reiniciar a carreira, começar do zero.

Em 1991 começou a maratona de insígnias: C de Prata, dois anos após, o C de Ouro. Em 1994 obteve dois diamantes: altura e distância pré-fixada. O mais importante de tudo isso, é que não havia mais o apoio de um regime ávido por premiações. Os planadores voados eram de baixo desempenho, cedidos por AEROCLUBES, quando não estavam sendo utilizados para instrução. Lutando contra a falta de verbas, foi subindo no Ranking Brasileiro de Pilotos, lutando contra outros pilotos que possuíam planadores de última geração. Muitas vezes, equipamentos de centenas de milhares de dólares eram derrotados pelo Peter e seu planador obsoleto. O apelido de seu pequeno planador era “Frankie”, lembrando Frankenstein. Após ser campeão brasileiro Classe Olímpica, completou o ano de 1997 viajando para a Turquia, onde participou do 1º Campeonato Mundial World Class. Apesar do 2º lugar na primeira prova, problemas técnicos o afastaram do podium. Representou também o Brasil no Campeonato Mundial na Polônia. Em 2001, realizou a expedição brasileira (nordeste) e bateu 12 recordes brasileiros.

No dia 07/01/2009, Peter Volf, decolou de Marilia/SP, com um planador modelo KW-1 “quero-quero”, sobrevoou as cidades de Pacaembu e Garça, retornando a Marilia SP, em 6 horas e 24 minutos de vôo, totalizando 373,53km, batendo assim três recordes brasileiros “Distancia prefixada ida e volta; Distância livre ida e volta e Distância prefixada com três pontos de virada”.

Em 2009 participou do Campeonato Mundial na Polonia e fez questão de levar uma bandeira de Bebedouro que ficou hasteada em seu acampamento no Aeroporto.

“Voar para mim é um tratamento psicológico contra a depressão” dizia Peter Volf.

Atendendo ao seu desejo seu corpo sera cremado e suas cinzas repousarão nos céus do seu Aeroclube de coração, o Aeroclube de Bebedouro, não haverá cerimonia e nem velório de seu corpo!

Descanse em paz “Seu Peter Volf